MOVIMENTO (ART05) Braços abertos, olhar panorâmico, estático movimento, Cristo. Aproxima-se e some com o movimento de sentimentos de concreto e borracha, lata e ferro, rodas-asfalto e no alto vigia tudo sem distinção de raça e ou, cor sem presunção ou condição de status, com magnificência, sem violência e com toda beneficência. O verde respira verdade e o faz grande e único. Ele. Cristo de braços abertos no pedestal secreto, rochoso relevo dos deuses e suas entranhas de concreto e de espírito de um só Deus, sem auréola, feito de pedra. Pedra é Ele. Não rola. É movimento, é espírito. Não, ao delito. - A cúpula da Igreja de Santa Terezinha, abaixo, acanhada e bela some por entre os ciprestes. Viadutos e movimento. Som some, vem e vai ao ouvido, ruído, alarido sem sentido e vejo se distanciar, Ele, o Cristo. É o movimento. Intenso e tenso. Penso. Por baixo do viaduto passo e mais: barulho mais intenso. É o movimento. Letras brancas, que, rápidas leio: “Gentileza gera gentileza”. Em movimento repenso e chego a um consenso da frase deixada pelo poeta, que vive na cidade; o movimento nos proporciona ver o trajeto das marcas do poeta andarilho, um Cristo de vestes e madeixas brancas na terra, nosso tempo, propagador da delicadeza, de seu movimento que, lento e calmo deixou o rastro do seu movimento do seu protesto lento e em desenvolvimento nas duras pedras do viaduto, reduto... Sentimento de poeta louco-lúcido, como poucos. Passa a árvore, passa o mendigo, passa a enseada, pálida, em disparada, passa o vento mais intenso, velocidade extrema interna da alma, perimetral cumprida; apita o guarda e o som some no movimento desatento ao tempo que migra rápido e morre lento sem discernimento, sem tempo porque o tempo é movimento do momento à soluções baratas e inesperadas de um dia que corre sem sombras de amor e de vida apenas, réstias do caminho percorrido nas sinuosas vias de Botafogo e Flamengo, com uma outra réstia azul de horizonte próximo, com ar de um dever cumprido ou um início de mais uma etapa do dia, que inesperadamente se choca contra a placa irônica de apenas 60 km por hora e o tédio do barulho dos carros e buzinas fazem transpirar os poros do mortal que a beira do caminho se desculpa com o guarda sem ao menos um triângulo para sinalizar. Azar. Parado momento no movimento. Congestionamento. Que fazer? – Olha a sua direita, aos céus, e esquece-se do guarda e o barulho some. E o movimento? – Cadê? – o quê vê? – Apenas uma visão fixa de um sentimento singular e onipotente que ignora o momento do movimento em andamento, à tortura momentânea da burocracia, na enseada de Botafogo à beira da avenida. Estático e translúcido no pensamento do mortal, Ele. O Cristo de pedra lhe dá alento e vigília, no instante do tempo em movimento, parado no momento. Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2010-08-25 edidanesi
Enviado por edidanesi em 10/09/2012
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