Meu recanto, meu canto

"A IMAGINAÇÃO É MAIS IMPORTANTE QUE O CONHECIMENTO" (ALBERT  EINSTEIN)

Textos

              AS MARGARIDAS DO CANTEIRO CENTRAL

     Belas, selvagens!  Nem um dia, sequer, deixava de vê-las. O céu em formato de coração regozijava-se todas as manhãs, sereno e calmo, com o frescor e a beleza intrínseca, das margaridas do canteiro central da minha casa. O sol era o privilegiado no seu despertar e adormecer. Quanta beleza! Única. O nosso diálogo nas manhãs era infalível. Gostava de estar lá e vê-las ainda orvalhadas, como também vê-las abrir pétala por pétala, assim que o sol se debruçasse sobre elas. Havia uma lilás quase imperceptível entre as demais, mas, eu sabia que estava lá no coração do canteiro central. O nosso colóquio era íntimo: flor e humano. Elas notavam a minha presença e eu aspirava ao seu perfume alimentando o meu dia e podia admirá-las e acariciá-las. O contato diário com as margaridas tornou-se um hábito necessário e confortante para mim. As demais flores do meu jardim eram também especiais e o meu cuidado, também especial. Mas, o canteiro central era o privilegiado. Quando o inverno ferrenho se aproximava e o vento sibilava, como prenúncio de geada, havia o frondoso cipreste, em frente ao meu quarto, que velava as noites e o amanhecer frios, como um subterfúgio final de um tempo incerto, um tanto londrino que as protegia parcialmente, das intempéries. O jardim tinha forma de um trevo. Calêndulas, capuchinhas, flocos rosa, brancos e lilases, mal-me-quer, miosótis, mosquitinhos e as roseiras com caules espinhentos faziam o diferencial na paisagem colorida. Altivas, belas e coloridas. Recanto encantado aos olhos; outras tantas espécies preenchiam e coloriam os canteiros. Borboletas pequeninas multicores passeavam pela vasta planície, para elas, colorida e absoluta. Os beija-flores sobrevoavam com múltipla escolha para obter o seu néctar, que para o qual, as preferidas eram as camélias brancas e rosas e os jasmins, também muito disputadas, pelas abelhas. Todos sugando o néctar quase que, simultaneamente, que a própria natureza propiciou, para a sobrevivência e ofício. Sem explicações. Até mesmo os sapos verdes e pintados cooperavam para a manutenção deste espaço. Escondidos durante o dia junto aos tijolos dos canteiros, e a noite quando a luz se fazia acesa lá iam eles a procura daquela espécie de besouro rechonchudo desuni forme, e, atraídos por esses insetos e pela luz, acabavam abocanhados por estes anfíbios tranqüilos, mas com armas venenosas, caso sentia-se invadidos. Como posso esquecer? Havia também o amor-perfeito. O nome faz jus. Delineava todo o corredor de passagem ao portão do casarão, até o portão de saída que dava para a estrada da serra. A singela flor é tão poderosa que sobrevivia e coloria a temporada de inverno e a perfumava. Pequenina e aromática é ilimitada para uma apenas singela descrição. A Ribeirão do Campo, inteira, detectava o perfume espalhado e inconfundível, da pequenina e grande flor. Posso, ainda inferir, pois lembro dos xaxins repletos de Olhos de Boneca e Oncidiuns, ou Chuva de Ouro, quando abria a janela do quarto de mamãe com o costumeiro ranger próprio da madeira maciça de mogno, ainda com cheiro característico, todos altivos sentiam-se exuberantes diante dos girassóis, ainda poderosos, que com sua sabedoria viram suas corolas para o lado de quem os criou e mais tarde, cansados e pesados com o seu frágil talo, caem por terra diante da própria beleza e morrem.
     O ar gelado que sopra do norte acabrunha e a natureza se ressente. O humano se encolhe e busca esconder o tédio da estação. É a estação do frio. São tempos em que o homem reflete sobre si mesmo e sobre a natureza que o ensina a cada dia. A lida no campo é árdua e calma para o ser, conformado, que não vê alternativa. A obscuridade chega à alma, como uma chaminé expelindo fumaça direcionada onde o vento a levar; e a reflexão se faz imprescindível. Mira o por do sol sem saber e o vê nascer e não nota, irreflexivamente. Reversível e passível a situação se torna, pelo poder empírico, uma conduta sábia dos sábios que pensam nada saber; apenas, que o dia inicia e é somente mais um dia. A luta diária é travada sem qualquer subterfúgio. Sente o ar penetrar nos seus ossos e vê, unicamente, a labareda do fogo no fogão esquentar o seu corpo duro pela lida e pelo tempo. A mira. Nada, ou, tudo entende. Uma vida que segue junto com a natureza sem muito que prestar contas a não ser a si próprio. Isenção de estresse e de PGI. Vive o lúdico dentro de um tempo em que a ilusão se faz necessária e confortável pela luta merecida e provavelmente um dia, saboreada. Enfim, retorno. - Cadê as margaridas do canteiro central que abrilhantava o meu jardim? – E as Mal- Me- Quer? – e a Margarida Lilás? – Onde foram parar? – Como as brincadeiras de bem- me quer e mal- me quer aos domingos e o resultado quase sempre inválido? – e dos copos de leite, dos lírios que, de longe, unificavam suas cores confundindo-se com as das margaridas, dando amplitude ao jardim noção de um tapete branco com pingos dourados? - Filha, vinte anos se passaram. O canteiro central das margaridas é o tapete verde em que pisas. A margarida lilás foi transplantada no quintal do amor. As margaridas brancas com coroas amarelas estão espalhadas por todo o prado e convivem com muitas outras. Clivi vermelhas, Manacás e Alfazemas quebram o choque entre o azul e os cachos das acácias com exuberância tanta, para que o homem as veja e não necessite cuidar delas. Apenas as mira e as admira! 

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Enviado por edidanesi em 23/11/2013
Alterado em 23/11/2013
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