Meu recanto, meu canto

"A IMAGINAÇÃO É MAIS IMPORTANTE QUE O CONHECIMENTO" (ALBERT  EINSTEIN)

Textos

A VELA PERFUMADA
(PRP13)
     Olhava para mim. Parecia entender o que se passava comigo e pedia-me para que a tirasse do lugar e a transportasse para qualquer outro, com cara de desespero, amarela, porque há muito tempo já sentira a indiferença, o descaso da vida e sozinha, não sobreviveria. Queria morrer! Era o inicio do desfecho de uma vida. Em poucas horas, em que o mundo nada sabia de sua existência e apenas o perfume alastrava-se nele como uma dissipação de algo profundo, se dava o fim. Deveria flamejar então, a pequenina chama que, esvaindo cresceria e choraria lágrimas densas e porosas chegando à sua finitude; um destino antevisto e incontrolável. Queria mesmo morrer! Sentia-se útil morrer, sobre um belo tapete vermelho bordado, com flores vermelhas e laços ainda vermelhos e folhas verdes, com um fino fio dourado ao lado do rústico ainda verde vaso árabe, que a assistia, envolvendo um majestoso antúrio branco onde as cores dissimulavam um belo quadro, sem nada entender. Lágrimas pesadas espessas e esbranquiçadas grudam no tapete deixando a marca última e definitiva de sua existência flébil. Frágil, com a potente chama incandescente e forte, impregna nas paredes do castelo o seu calor final e finito; atribui a sua fantasia de brilho e de luz, espetáculo de um por do sol, através das portas e janelas do pequeno palácio, claustrofóbica, em metros quadrados e, entre cultura e sabedoria, apinhadas em ainda centímetros milimétricos quadrados junto aos guardas, Quixote, cavalheiros, trabalhadores, mendigos e pajés que admiram e prostram-se, certamente ofuscados, diante de tanta beleza instantânea da sua luz, aos Girassóis da Rússia.
     Duas horas se passaram. O processo da agonia é anti-antagônico. Três centímetros e meio de matéria e cento e vinte minutos de pura incandescência iniciam o processo de morte; e o príncipe, cego, insiste em viver na escuridão, duplamente. Sente, por segundos, um diferente e delicioso aroma no ar sem se dar conta de que a chama definha e agoniza a vela, num processo lento da perda do brilho da sua luz que, lentamente, o seu último por do sol ainda mais vermelho, esbranquiçada, fria e sem perfume jaz no rez-de-chaussée, como nuvem, pairando sobre o oceano num fim de dia.
     O Castelo está às escuras. O príncipe tateia emaranhado pela vida e o momento se fez imperceptível. A ruptura da inércia fez-se obediência, testemunho e introspecção.




 
edidanesi
Enviado por edidanesi em 20/08/2012
Alterado em 20/08/2012
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